quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Olhar de Menina




                Medo de menina escondido nos olhos de mulher, não que os anos já lhe fossem muitos, e não eram, contudo a infância e a adolescência já tinham se retirado. Mas os seus olhos, ah os seus olhos ainda carregavam consigo os traços da meninice.

                Tentou amar muito nova e por alguns anos perseverou na tentativa, mas no final o que pensavar ser amor desfaleceu. Deixou ali então um pouco da menina que era.

                Foi atrás de sonhos, com a ponta dos pés tocando o chão procurou com a ponta dos dedos tocar os luminares. Era ainda pequena demais, não conseguiu, caiu. Agora com o seu corpo todo ao chão apenas seu olhar permanecia nas estrelas.

                Caminhou e se esqueceu da beleza do caminho. As lágrimas enturveceram os detalhes de alegria do seu dia-a-dia. Sentia falta do amor que havia tentado encontrar. Não da pessoa que havia amado, mas da sensação de se entregar à tentativa de amar. Sentia falta de na ponta dos pés dançar à procura de tocar os luminares.

                Não percebeu os mistérios do futuro vindo como brisa acaricia-la. Olhou tanto para o passado que não mais acreditava em si mesma no futuro. Ao vê-la não era mais menina, mas carregava em seu olhar as desilusões que sofrera quando ainda não era mulher.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Lua


                Quem me conhece sabe o quanto eu sou apaixonada pela Lua. Perco facilmente a atenção dos passos quando percebo que ela tá lá brilhando. A luz me atrai, as formas, crescentes e decrescentes dela estar. Gosto tanto que se possível vou colcar esse nome na minha filha, só achar alguém que tenha esse mesmo gosto exótico que eu.

                Já tentei decifrar porque esse fascínio tão grande, mas não sei se seria apenas um motivo, acho que é mais uma combinação de vários. Me encanta quando ainda dia a Lua aparece no céu azul, refletindo luz mesmo quando ainda há luz por todos os lados, mostrando que ela não reflete apenas na noite. Adoro quando a lua brilha tanto que não é preciso lampadas acesas, nem luz de velas ou lanternas. Gosto de pensar que quando ela não está lá é porque está renascendo, deixando de ser para voltar a ser de novo. Gosto de imaginar o lado da Lua que nós nunca vemos, amo o mistério de só existir um lado dela que somos capazes de ver.

                As metáforas podem ser infinitas naquilo que me atraio, sempre me vejo um pouco em cada característica desse ser luminoso sem luz.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Palavras confusas


Como os olhares nos enganam, como as palavras muitas vezes podem trazer confusão. Podemos olhar para alguém e imaginar milhares de coisas, podemos escolher ficar do lado de fora como observadores, e através do olhar tentar decifrar o objeto observado, ou pior ainda tentar decifra-lo com nossas palavras.

Será que a complexidade de quem nós somos não está naquilo que as palavras não podem dizer? Na melódia que surge nas entrelinhas da poesia de quem somos? Quando nos calamos somos capazes de dizermos muito mais, porque deixamos de lado as palavras, que são como muros pra que não se possa ver quem na verdade somos.

Não seríamos todos nós como Clarice Lispector: “Ou toca, ou não toca.”. No contato, no toque, no sabor do outro, aí mora o verdadeiro conhecimento, que é um estado de não saber de nada, aonde se sabia agora se sente, e sentimento e sabor são coisas que as palavras não podem descrever, como já diria Rubem Alves, nesses casos as palavras servem apenas como tentação para que se viva aquilo do qual se fala.

Descreveu muito bem Bartolomeu Campos Queiroz em uma fala sua, dizendo que a felicidade que ele encontrou estava no sentimento de paz diante dos mistérios que iam além dos seus limites. Mistérios são assim, indescritíveis, não passiveis de observação, apenas de contato, toque, sabor.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pés cansados


Fiz mais do que posso
Vi mais do que aguento
E a areia nos meus olhos é a mesma
Que acolheu minhas pegadas.

Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir
Os mesmos pés cansados
Voltam pra você.
Pra você

Eu lutei contra tudo
Eu fugi do que era seguro
Descobri que é possível viver só
Mas num mundo sem verdade.

Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir
Os mesmos pés cansados
Voltam pra você.

Pra você
Sem medo de te pertencer
Volto pra você.

Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir
Os mesmos pés cansados
Voltam pra você.

Meus pés cansados de lutar
Meus pés cansados de fugir
Os mesmos pés cansados
Voltam pra você.
Pra você.

(Lucas Lima - Pés Cansados)

"Como são bonitos os pés daqueles que pregam o Evangelho da paz..."

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       Essa é a primeira publicação que coloco no blog que não envolve um texto que eu fiz, só queria deixar aqui a letra dessa música/poesia que tem me feito tão bem durante esses últimos dias, e que vocês possam entender a profundidade dela.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Várias em uma só



                A minha mãe me chama de Binha, não me pergunte o por quê. Para o meu avô eu sou a “tica”. Tem ainda alguns tios e primos que me chamam de “bébé”, sim eles me chamam dessa forma. Para alguns amigos eu sou a “Rê”, para outros “Beca”, “Rebekinha”, ou até mesmo “Bekinha”, variando apenas na escrita entre o ‘k’ e o ‘qu’. Tem ainda quem me chame de “Jônatas”, e sempre os variados adjetivos como amiga, filha, irmã, prima. Mas no geral é Rebeca.

                Por significado eu deveria ser “a que une”, o que além de ser uma premissa falsa no meu caso seria muito pouco conter o significado de tudo que eu sou em três palavras, principalmente essas três. “A que une”, essa definição faz rir quem de verdade me conhece.

                A grande questão então não está na maneira pela qual sou chamada, ou qual vocativo me define na mente de alguém, ou de que maneira eu supostamente deveria ser e sou, ou não. A grande questão está em manter a integridade de quem eu sou independemente de com quem eu estou.