Pode
ser que chegue um dia em que as nuvens serão só nuvens, e a chuva de verão será
água atrapalhando meus dias, e as madrugadas acordadas serão horas de sono
perdidas, e ouvir música alta vai ser zumbido no ouvido na hora de dormir.
Mas
enquanto eu puder eu vou ser do contra, vou olhar para o céu e imaginar
que Deus naquele dia não quis usar as mãos dos homens e as tintas palpáveis mas
resolveu colocar as suas pinturas direto no fundo azul do céu.
Mas
enquanto eu puder eu vou andar devagar, e não vou usar guarda-chuva, vou deixar
a água correr. Não vou usar maquiagem pra não correr o risco de na cara a
máscara borrar, vou apenas andar, e ao invés de correr vou desacelerar e me
molhar o máximo que puder, sem medo de desagradar.
Mas
enquanto eu puder, e os meus olhos aguentarem eu vou dormir menos, vou viver
mais. Apenas nos momentos em que viver for tirar a sesta depois do almoço, vou
fechar os olhos, no mais vou ficar acordada e bêbada de sono, rindo de tudo,
rindo de todos, e acordando cedo para ver o sol nascer.
Mas
enquanto eu puder vou me levantar, e com o fone no ouvido e a minha trilha
sonora particular tocando vou dançar, sem público, sem platéia, sem técnica,
apenas dançar da maneira que meu corpo mandar, e sozinha com a música mais alta
sorrir, rir, gargalhar, e ali, bem ali, me realizar.
Pois
pode ser que chegue um dia em que as palavras assim se tornem poéticas demais,
e que a realidade seja mais real do que a minha imaginação, e que as demandas
do dia-a-dia tomem a prioridade do meu mundo parelelo criado e vivido apenas
por mim, mas enquanto eu puder eu vou colocar as palavras na odem mais (im)pensada
possível e vou lê-las e relê-las e nelas encontrar toda a razão que eu preciso.