Longe de Você não existe inspiração, minhas palavras são só palavras, e minha vida que é uma folha em branco continua branca. Eu procuro encontrar paz, mas não quero estar junto da fonte, quero ser feliz sem ter que me recolher no caminho mais estreito.
Só em Você eu possuo sentido, eu tenho motivo, eu vivo. Quando me apresentaram esse caminho eu nem percebi que ele me foi apresentado, quando eu vi já estava lá. Percebi que minhas pegadas estavam presentes no caminho largo e no caminho estreito, minha vida fazia curvas e eu acreditava estar andando em linha reta.
Eu sempre Te conheci, sempre soube quem você é, mas eu Te conhecia de ouvir falar até que passei a andar com Você, enxergar seu rosto, realmente saber dentro de mim quem Você era, o som do Seu sorriso, a cor dos Seus olhos, o pulsar do Seu coração. Você me atraiu e me cativou, e quando percebi era no caminho estreito que eu estava andando.
A paixão que no início me encatou se acalmou, acredito que aí surgiu um amor, regado por lágrimas, ao perceber quão díficil e doloroso era esse caminho. Quando andava por caminhos largos levava tudo comigo, minhas bagagens, meus fardos, meus pesos, tudo que estava sobre mim, e não dentro de mim, mas que já se confundia com quem eu era.
O caminho foi apertando, mas eu não estava pronta para me livrar de mim mesma, de quem eu era por fora, de deixar para trás o que me impedia de caminhar. Caí várias vezes por não aguentar o peso sobre meus ombros, me arrastava no chão tentando passar por fendas com meus pesos sobre minhas costas, me sujei, me machuquei, quase desisti.
Então pude ver ao meu lado uma saída, um escape, seria ilusão, causada pelo desgaste? Arrisquei, e descobri nessa saída uma linda lagoa, de águas cristalinas, na margem um carvalho com uma sombra reconfortante. Macando fui andando, cheguei no carvalho tirei minhas bagagens, me preparando para me banhar, me aproximei da lagoa. Antes de mergulhar olhei para aquela água, que em uma combinação de transparência e luz se tornou em espelho. Chorei. Vi meu rosto estampado, vi as marcar, vi a sujeira, vi o cansaço estampado.
Na hora me lembrei de Você que tinha me conduzido até ali, não conseguia nem mais me lembrar qual era a última vez que tinha te visto, te ouvido, como pode ser se ainda caminhava por onde Você havia me indicado? Aonde foi parar Você na minhas história?
A água misturada com as lágrimas me limpou, saí deste banho com as feridas limpas, prontas para serem curadas, não havia mais sujeira escondida nas minhas unhas, e minhas olheiras não estavam mais tão intensas. Me sentia leve pela primeira vez. Me sequei na brisa que Você mandou, e consegui ouvir seu sorriso quando o vento bateu nos galhos do Carvalho.
Saí daquela lagoa sem levar minhas bagagens, me sentia tão leve que me esqueci que havia chegado ali com milhares de coisas para caminhar. Retornei o caminho, como tudo parecia ser mais simples dessa vez. A noite caiu, não consegui enxergar mais nada. Duvidei que Você ainda estava presente. Estava chorando. A Sua luz brilhava tão forte através dos raios do sol. Me sentei, sentia tanto medo quando ouvi Você sussurrar: "Olha pra cima.". E lá estava a lua a nascer, lua cheia iluminando o caminho mesmo em meio a escuridão. Percebi que Você me dizia então: "Mas talvez você não entenda essa coisa de fazer o mundo acreditar que o meu amor não será passageiro, te amarei de janeiro à janeiro, até o mundo acabar. Eu nunca vou te deixar."